Este estudo é baseado no artigo "Mitos Litúrgicos", Que Escrevi e Foi Revisado por Sua Excelência Reverendíssima Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen (RS). O artigo lista 32 idéias equivocadas sobre a Sagrada Liturgia e contra-argumento com a palavra oficial da Santa Igreja.
Mito 18: "O Sacerdote Usar Casula é Algo Ultrapassado?"
Não é.
A casula é o paramento sacerdotal próprio para o Santo Sacrifício da Missa. É o mais solene, varia de cor conforme a prescrição para a celebração em específicoe vai sobre a alva e estola.
Infelizmente, tem se tornado moda em muitos lugaresque muitos sacerdotes celebrem usando apenas a alva e a estola, enquanto ascasulas mofam nos armários.
A Instrução Geral do Missal Romano (n. 119) determina que o sacerdote utilize: amito, alva, estola, cíngulo e casula (amito e cíngulo podem ser dispensáveis,conforme o formato da alva).
A Instrução Redemptinis Sacramentum determina ainda que, sendo possível, inclusive os sacerdotes concelebrantes utilizem a casula (n. 124-126):
"No Missal Romano é facultativo que os sacerdotes que concelebram na Missa,exceto o celebrante principal (que sempre deve levar a casula da cor prescrita),possam omitir «a casula ou planeta, mas sempre usar a estola sobre a alva»,quando haja uma justa causa, por exemplo o grande número de concelebrantes e afalta de ornamentos. Sem dúvida, no caso de que esta necessidade se possaprever, na medida do possível, providencie-se as referidas vestes. Os concelebrantes, a exceção do celebrante principal, podem também levar a casulade cor branca, em caso de necessidade. (...) Seja reprovado o abuso de que os sagrados ministros realizem a santa Missa, inclusive com a participação de só umassistente, sem usar as vestes sagradas ou só com a estola sobre a roupa monástica, ou o hábito comum dos religiosos, ou a roupa comum, contra oprescrito nos livros litúrgicos. Os Ordinários cuidem de que este tipo de abusossejam corrigidos rapidamente e haja, em todas as igrejas e oratórios de suajurisdição, um número adequado de vestes litúrgicos, confeccionadas de acordo com as normas."
Embora haja para o Brasil a concessão de o sacerdote celebrar apenas utilizando alva e estola quando houver razões pastorais (ver comentário do Pe. JesúsHortal, SJ, à respeito do cânon 929, no Código de Direito Canônico editado pela Loyola), de forma alguma pode-se dizer que o uso da casula é ultrapassado, como foi demonstrado acima.
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"No meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um cinto de ouro." (Apocalipse 1,13)
"Está vestido com um manto tinto de Sangue, e Seu Nome é Verbo de Deus. Seguiam-no em cavalos brancos os exércitos celestes, vestidos de linho, fino e de uma brancura imaculada." (Apocalipse 19, 13-14)
Comentário sobre este Mito (03/09):
O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, em seu fabuloso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", faz uma reflexão muito profunda a respeito do significado espiritual da casula.
Entre outras coisas, ele escreve:
"A veste litúrgica usada pelo sacerdote durante a celebração da Sagrada Eucaristia deve, em primeiro lugar, demonstrar que ele não se encontra lá em privado, mas que está lá no lugar de alguém - de Cristo. O seu privado e individual devem desaparecer, a fim de conceder espaço a Cristo. - essas palavras pronunciadas por São Paulo após a sua própria experiência com Cristo, como expressão do novo que sente a pessoa batizada (Gl 2,20), são de uma importância específica para o sacerdote celebrante. Não é ele o importante, pois quem ele transmite é Cristo e não a sua própria pessoa. Ele deve fazer de si o instrumento de Cristo, que não age por si, mas sim como mensageiro de outra pessoa - in Persona Christi, como diz a tradição litúrgica."
Pois é através do Sacerdote, que atua "in Persona Christi" (na Pessoa de Jesus Cristo, por graça participando ministerialmente do Seu Sacerdócio; ver Catecismo n. 1667-1673), que Nosso Senhor Jesus Cristo se oferece e se faz presente de forma real e substanciual no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1374-1377. Isso se dá durante a Santa Missa, que é a renovação do Seu Único e Eterno Sacrifício, consumado de uma vez por todas na cruz e tornado presente no altar, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411).
No mesmo livro citado, o Papa faz uma retrospectiva histórica a respeito do significado da veste litúrgica:
"Pensa-se que a imagem de se revestir de Cristo foi formada nas consagrações dos cultos místicos, em analogia com o culto de vestir máscaras das respectivas divindades. Paulo não fala nem de máscaras nem de ritos, antes de um processo de transformação interior, que tem por objetivo tanto a renovação interior do homem à imagem de Deus como a união dos homens. Tal superação seria a superação das barreiras que crescem e sempre crescerão na história do pecado dos homens. Daí que a imagem de revestir-se de Cristo seja uma imagem dinâmica, que aspira à transformação dos homens e do mundo - ou seja, à nova humanidade. A veste litúrgica evoca o tornar-se como Cristo e a comunidade nova que nasce daí. Ela desafia o sacerdote a pôr-se no caminho para sair da sua própria existência, a fim de se tornar novo com Cristo. Isso lembro os participantes do caminho novo que se iniciou no Batismo e que conitnua na Eucaristia runo ao mundo novo, devendo delinear-se no nosso quotidiano mediante o Sacramento."
Continua o Papa:
"A veste litúrgica indica para além do significado das vestes exteriores - ela é a antecipação do vestido novo, do Corpo Ressuscitado de Jesus Cristo, a caminho do novo que nos espera depois da destruição e que será a nossa morada eterna."
E completa:
"Para os Padres, a história do Filho Pródigo regressado era a história da queda de Adão, da falência do homem (Gn 2,7). Eles entenderam a parábola de Jesus como a mensagem do regresso a casa e da reconciliação dos homens entre si: aquele que regressou a casa em Fé recebe de volta a veste primordial e será revestido da Piedade e do Amor de Deus, que constinuem a verdadeira beleza."
E nós, o que vamos fazer diante deste maravilhoso significado espiritual e litúrgica da casula?
Desvalorizá-la como se fosse algo qualquer?
Deixar de usá-la para se "prender ao essencial"? Mas...ela aponta para o essencial, como vimos nas palavras do Papa!
Pelo contrário: é preciso que mergulhemos no significado litúrgico da casula, e da própria valorização que a Sagrada Liturgia dá aos sinais externos.
Negar isso implicaria colocar-se em contraposição com grandes parte das normas litúrgicas da Santa Igreja, bem como com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos, velas, flores, incenso, gestos do corpo, etc), que partem da necessidade de se manifestar com sinais externos a fé católica a respeito do que acontece no Santo Sacrifício da Missa, bem como manifestar externamente a honra devida a Deus. A atitude interna é fundamental, mas desprezar as atitudes externas é um erro.
O Papa liga ainda o uso da casula ao que ele chama de "verdadeira beleza", que é a "Piedade e o Amor de Deus".
Esta questão da "beleza litúrgica", que se faz tão presente no uso da casula, ele mesmo abordou na sua fabulosa Encílica Sacramentum Caritatis (n 35), onde o Papa diz:
"A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). (...) Jesus Cristo mostra-nos como a verdade do amor sabe transfigurar inclusive o mistério sombrio da morte na luz radiante da ressurreição. Aqui o esplendor da glória de Deus supera toda a beleza do mundo. A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra."
E completa o Papa (n.35):
"Concluindo, a beleza NÃO É UM FATOR DECORATIVO da acção litúrgica, mas seu ELEMENTO CONSTITUTIVO, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza."
Eu particularmente considero a casulas, juntamente a capa-magna (paramento que sacerdote ou diácono utilizam em exposição do Santíssimo Sacramento abaixo do véu-umeral, e se assemelha a capa de um rei), comos paramentos mais belos e esplendorosos que temos na Sagrada Liturgia.
As minhas casulas praferidas são as azuis (nos locais onde há a concessão para usá-las em certas datas marianas), as douradas (esplendorosas!) e as com figuras de flores, que são muito tradicionais - vejo também, nas casulas com flores, algo de "celeste" e de "presença mariana" que envolvem totalmente o Cristo Sacerdote.
Toda essa questão dos materiais nobres nos vasos sagrados que falamos em postagem anterior, do uso da casula que falamos aqui, e da qualidade artística dos demais materiais litúrgicos, fazem parte do dar o melhor para Deus.
No caso da casula, muitas vezes não se utiliza porque não se quer (e ela mofa no armário). Mas tenho visto que, outras vezes, principalmente em eventos (por exemplo, encontros deevangelização, encontros de jovens, retiros...) fora de paróquias, não se usa porque não se tem casula ali. E porque não se tem? Talvez porque não haja uma atenção especial para este ponto, e penso que é um ponto que em muitos lugares podemos avançar.
Tenho participado com certa frequência de equipes que servem na Liturgia em encontros como esses, e vejo que muitas vezes as pessoas se surpreendem em ver certo tipo de preocupação litúrigica nossa com coisas muitas vezes vistas como "desnecessárias": providenciar um "altar de qualidade" quando o Santo Sacrifício da Missa é fora de lugar sagrado, providenciar (e carregar para o local!) materias litúrgicos da melhor qualidade possível, desde paramentos até castiçais e flores para ornamentar altar...
O raciocínio que faço é muito simples. Nesses eventos, se costuma dedicar-se tanto para: oferecer uma comida de qualidade nas refeições; limpar o lugar do encontro; decorar o lugar do encontro; conseguir os melhorese quipamentos de som (mesmo que custe dinheiro), levar os melhores instrumentos,ensair as músicas e invertir tempo nisso (quem é músico sabe!), ter um cuidado todo especial na afinação dos intrumentos...e tudo isso é importante, claro! Mas porque uma equipe que cuida da Liturgia não dedicar-se também em fazer o melhor possível para preparar o Culto Divino? Inclusive no tempo investido, nos materiais preparados e carregados?
Dei essa volta toda para ilustrar o ponto que quero chegar: que nesta questão da casula e da qualidade dos materiais litúrgicos, que tanto temos falado nestas postagens, ao prepararmos o Culto Divino, sejamos movidos pelo verdadeiro "espírito da Liturgia" (termo do título do livro do Santo Padre), e NÃO pelo desleixo, que leva a "dessacralização" (tratar o sagrado como se não fosse sagrado), termo que o saudoso Papa João Paulo II usou na carta Dominicae Cenae (n.8).
Um caminho leva para a dessacralização. O outro caminho, para a Sacralidade, como fala o Papa João Paulo Paulo (Dominicae Cenae, n.8).
E aí vemos a riqueza dos sinais litúrgicos:
- algo de especial que acontece (a Presença Real e Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor na Missa!)
- celebrado por alguém que, por Misericórdia de Deus, recebeu uma graça especial (o Sacramento da Ordem) e é "Persona Christi"
- celebrado em um lugar especial (nas igrejas, capelas e oratórios, que são a Casa de Deus...)
- preparado de uma forma especial (a ornamentação do altar e do local, as velas, as flores...)
- utilizando-se uma veste especial (a casula no caso dos sacerdotes, a batina e sobrepeliz dos acólitos, o véu das mulheres que reverentemente optam em usá-lo por amor...)
E que tudo isso, é claro, seja acompanhado pelo nosso amor a Deus!
Que as velas que se consomem no altar sejam nossa vida consumindo-se por amor a Nosso Senhor! Que o incenso seja o perfume da nossa adoração que sobe ao céu!
Que o "ouro" dos cálices e cibórios seja o "ouro" de um coração que adora a Deus!
Que o vestir as casulas, alvas, batinas, sobrepelizes, capas, véus, seja a nossa atitude de querer revestir-se do Espírito Santo...
Uma objeção que muitas vezes se coloca ao uso da casula é a questão da humildade... "não vou usar, porque preciso ser humilde."
Ora, essa objeção não se sustenta. Se há uma vaidade no "estou usando a casula", também há uma vaidade no "estou me despojando e não usando".
Como colocamos acima, com as citações dos gigantes Bento XVI e João Paulo II, a casula e toda a beleza litúrgica precisa apontar para Deus, e não para nós. É uma questão de mudança de percepção. E como filhos e filhas da Santa Igreja, é ato de humildade agirmos como nossa Santa Mãe Igreja deseja e a tem em sua tradição litúrgica.
Aliás, esse pensamento de "não usar casula para de despojar" parece ser o mesmo tipo da tentação de: "Vou deixar de rezar o Rosário para não me envaidecer" ou "Deus me deu o dom de pregar, mas não vou pregar para não me envaidecer".
Ora, se há uma vaidade no rezar o Rosário ou no pregar a Palavra de Deus, também há vaidade no "estou me despojando e não fazendo isso".
Somos homens e não anjos, temos concupiscência (a tendência ao pecado que é consequência do pecado original), e há algo de vaidade ou outro tipo de desordem em absolutamente tudo o que fazemos, mesmo que tenhamos as melhores intensões, como afirmam os santos autores espirituais. São Luis Maria Montfort (Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, n.78), por exemplo, diz que "nossa melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós." O que precisamos é não deixar que essa maldade, sempre presente, domine o que fazemos; e sim, que nosso Amor a Deus domine.
Tais tentações são um artifício em que o Demônio usa dos nossos escrúpulos para impedir que façamos a Vontade de Deus: rezando o Santo Rosário, talvez pregando a Palavra de Deus, valorizando o esplendor da Sagrada Liturgia...
Por último, retomamos um alerta:
Existe uma Revolução Cultural Anticristã, em processo em nossa sociedade, quer abolir na sociedade as justas desigualdades e hierarquias (Cat., n. 874-896), e a teologia modernista quer abolir o Sacerdócio, igualando a figura do sacerdote a qualquer outro leigo.
Muitos liturgistas adeptos da teologia modernista, ou influenciados por ela, e que com as suas novas interpretações litúrgicas pretendem negar ou ofuscar os Mistérios da Presença Real e Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, da Santa Missa como Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor e do Sacerdócio Ministerial.
Nestes casos, é ignorada a essência mística do Sacerdócio, e o sacerdote é rebaixado a ser, simplesmente, alguém que ocupa um cargo à frente de uma comunidade. Neste aspecto, é o mesmo igualitarismo revolucionário que no séc. XVI os protestantes fizeram, atentando contra a hierarquia da Santa Igreja, instituída por Nosso Senhor.Há destes liturgistas que conhecem bem o poder dos símbolos e da linguagem para a alma humana, e o utilizam em suas estratégias.
Muitos vezes, são exemplos disso (nos limitamos aqui aos exemplos estritamente relacionados à forma de vestir dos sacerdotes dentro e fora das celebrações):
- os sacerdotes andarem "vestidos de leigos" – não usarem nem batina nem clergyman (ou hábito religioso, no caso dos sacerdotes religiosos). Em tempo: o Código de Direito Canônico determinada que os cléricos usem veste clerical (cânon 284).
- os sacerdotes usarem cada vez menos paramentos na Santa Missa, deixando de usar a casula, que é o paramento próprio para a Santa Missa, e usando apenas somente alva e estola (e por vezes nem isso!) – enquanto os leigos usam cada vez mais "vestes litúrgicas" – e estranhamente, em vários lugares, "vestes de leitor" que parecem casulas.
Ocorrem dois processos similares e igualitaristas: a laicização do clero e a clericalização do leigo.
É preciso percebermos este perigoso movimento cultural, teológico e litúrgico, e reagirmos.
Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:
"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."
Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia e Mãe dos Sacerdotes, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado, pelo Santo Sacrifício do Altar e pelo Sacerdócio...
"No meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um cinto de ouro." (Apocalipse 1,13)
"Está vestido com um manto tinto de Sangue, e Seu Nome é Verbo de Deus. Seguiam-no em cavalos brancos os exércitos celestes, vestidos de linho, fino e de uma brancura imaculada." (Apocalipse 19, 13-14)