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Contagem Regressiva Para a JMJ Rio 2013!!!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"Palmas na Santa Missa, Pode ou Não Pode?"

Decano dos Cardeais e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu livro "Introdução ao espírito da Liturgia", subentendeu-se tal afirmação que, em língua portuguesa, pode ser lida a explicação lógica, histórica, coerente e doutrinal a respeito das palmas durante a Santa Missa, quando trata da dança na Liturgia (grifos e ressalvas entre colchetes nossos):
"A dança não é uma forma de expressão cristã. Já no século III, os círculos gnóstico-docéticos [portanto, uma Heresia!] tentaram introduzi-la na Liturgia. Eles consideravam a crucificação apenas como uma aparência: segundo eles, Cristo nunca abandonou o corpo, porque nunca chegou a encarnar antes da sua paixão; consequentemente, a dança podia ocupar o lugar da Liturgia da Cruz, tendo a cruz sido apenas uma aparência. As danças culturais das diversas religiões são orientadas de maneiras variadas - invocação, magia analógica, êxtase místico; porém, nenhuma dessas formas corresponde à orientação interior da Liturgia do "Sacrifício da Palavra". É totalmente absurdo - na tentativa de tornar a Liturgia "mais atraente" - recorrer a espetáculos de pantomimas de dança - possivelmente com grupos profissionais - que, muitas vezes (e do ponto de vista do seu desígnio com razão), terminam em aplauso. Sempre que haja aplauso pelos atos humanos na Liturgia, é sinal de que a natureza se perdeu inteiramente, tendo sido substituída por diversão de gênero religioso. [...] A Liturgia só pode atrair pessoas olhando para Deus e não para ela própria; deixando-O ingressar e agir."
(RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da Liturgia. 3ª Edição. Paulinas: Prior Velho, Portugal, 2010. pp. 146 e 147.)

Partindo do que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, nos números 1362, 1366, 1382, 1409, a Santa Missa é o "Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor", aqui, procuramos demonstrar claramente que as palmas proibidas são aquelas ritmadas para acompanhar músicas.

Na Liturgia, como em tudo, existe o momento certo e adequado para cada coisa acontecer. Este tipo de acompanhamento (palmas) tem seus momentos específicos, como podemos verificar na celebração dos Sacramentos e Sacramentais, dentro da ou fora Missa, de acordo com as rubricas:
No Ritual do Batismo de Crianças:
76. A assembléia pode manifestar sua alegria com uma salva de palmas. A família acolhe o neobatizado com um beijo ou outro gesto de afeição.
No Ritual do Matrimônio:
65. [Após o Consentimento], O sacerdote convida os fiéis para o louvor a Deus, que respondem “Graças a Deus” ou outra fórmula de aclamação. [Palmas].
Introdução Geral: Ordenação de Diácono, Presbítero e Bispo, nº 11:

Compete às Conferências dos Bispos:

a) Definir o modo como a comunidade vai aprovar a escolha dos candidatos, de acordo com o costume da região (na Ordenação de Bispo, nn. 38 e 74; na Ordenação de Presbíteros, nn. 122, 150, 266 e 307; na Ordenação de Diácono, nn. 198, 266, 264 e 305).
Outros momentos oportunos:
·        Na criação de Cardeais, quando o Papa diz o nome do novo Cardeal, a assembleia na basílica costuma-se aplaudir. Também nalgumas celebrações quando antes dos ritos iniciais, o Ordinário do local dirige uma mensagem ao Papa, em geral se conclui com palmas. 
·        Na posse de Párocos, após a Profissão de Fé e Juramento de Fidelidade e após a alocução do novo pároco à comunidade, os fiéis também podem aclamá-lo com as palmas.
E isso, para se ter em conta que se trata de uma regra universal e válida, inclusive para os grupos que se utilizam das expressões corporais como forma de louvor a Deus e que fazem uso de danças e músicas ritmadas com palmas em suas reuniões. Não há problema que eles usem isso em suas reuniões, o problema é tentar adaptar a Liturgia ao seu grupo, como dito no texto do Cardeal Ratzinger.
Tenha-se claro que não se trata também de uma forma intimista ou uma "característica privada" de grupos; Antes, como uma "Lei" serve para coibir e mesmo alertar os fiéis a respeito de atos errôneos e os modos como evitá-los. Para isso servem as leis. E caso sejam infringidas, existem as penas a serem cumpridas, como a acusação durante a confissão sacramental.
Claro que não se pode entrar em méritos ou desméritos relativistas da contemporaneidade de que, "no fim das contas, o que importa é o coração, é o amor..." Sim! Importa sim o amor e o zelo com que toda ação litúrgica se volta para Aquele que é Amor, como sinal de retorno do dom recebido pelo "Deus-Amor."

Nem sempre questões religiosas podem ser respondidas com "pode" ou "não pode", visto que é algo muito simplista; Aqui não se trata apenas de uma restrição, mas de reflexões do Magistério sobre a Eucaristia. Muitas vezes, por detrás de um "não" que a Igreja dá, existe um valor tentando ser preservado. Às vezes um "não" que se dá em um determinado momento é para tentar corrigir situações que estão erradas, até poder dar um "sim" do jeito acertado. Um "não" bem dito, ajuda em um "sim" melhor acolhido posteriormente.
De toda forma, se nem para o Hino Nacional, em termos cívicos, batem-se palmas, como um ato de respeito, o que se dirá na Santa Missa!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Procissões: Procissão do Ofertório!!!

Provavelmente a única procissão de caráter laical, não conta com o celebrante, o diácono, nem os acólitos, apenas leigos levando os dons. Essa procissão não faz parte do cerimonial da forma extraordinária do rito romano, tendo sido reinserida na ordinária a partir do uso no rito romano de anterior ao Concílio de Trento. Pode ser feita em todas as missas, mas preferencialmente aos domingos e solenidades.

Terminada a liturgia da palavra inicia-se o canto do ofertório, de junto da porta principal ou de outro lugar mais conveniente, parte a procissão onde alguns leigos levam os cibórios e as galhetas. Não devem ser levados nessa procissão o cálice e a patena, primeiramente porque esses dois vasos são especialmente abençoados e, segundo a tradição, evitar o toque é uma forma de respeito; depois por que não faz sentido levar o cálice vazio ao altar e levar a patena sozinha é algo nenhum pouco prático.

A pocissão termina onde está o celebrante. Este encontra-se, via de regra, na sédia ou cátedra, mas pode se posicionar também na entrada do presbitério ou outro local se a primeira opção for pouco viável. O missal romano prevê, ainda, a possibilidade de ser o diácono a receber os dons dos fiéis. Considerando o caso padrão de o celebrate estar na cátedra, aqueles que levam os dons se aproximam, se for conveniente dois a dois, fazem reverência e se ajoelham aos pés do celebrante. Nesse momento o celebrate pode abençoar aqueles que levam os dons ou dirigir-lhe algumas breves palavras, então pega os vasos e os entrega a algum ministro ou ao menos toca neles. Depois eles se levatam, voltam a fazer reverência e, se não tiverem entregado os vasos com as sagradas espécies ao próprio celebrante, entregam a algum ministro que os leva ao altar.

Não se fazendo essa procissão, os ministros, acólitos e diácocos, levam as espécies de maneira mais simples da credência até o altar.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Mitos Litúrgicos Comentados - Mito 04: Rito Romano e Tradição Litúrgica!!!

Este estudo é baseado no artigo "Mitos Litúrgicos", Que Escrevi com a palavra Oficial da Santa Igreja.



Mito 04: "A Missa Tridentina é antiquada"

Não é.

A Missa Tridentina é o Rito Romano celebrado na sua forma tradicional, promulgada pelo Papa São Pio V no Concílio de Trento. As diferenças entre a Missa Tridentina e a forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI NÃO são somente a posição do sacerdote e a língua litúrgica (pois como foi dito acima, também na forma moderna do Rito Romano é lícito celebrar em latim e com o sacerdote e povo voltados na mesma direção). As diferenças vão além: dizem respeito principalmente ao conjunto de ações do sacerdote, dos demais ministros e do povo que participa, bem como às orações previstas no Rito.

Com o Motu Próprio Summorum Pontificum, publicado em 2007, o Santo Padre demonstrou que essas duas formas do Rito Romano não são apenas duas formas válidas e lícitas, mas também duas formas autenticamente católicas de celebrar, e por isso mesmo, não há contradição entre elas. Escreveu o Santo Padre:

"Estas duas expressões da lei da oração (lex orandi) da Igreja de maneira nenhuma levam a uma divisão na lei da oração (lex orandi ) da Igreja, pois são dois usos do único Rito Romano." (Summorum Pontificum)

E ainda:

"As duas Formas do uso do Rito Romano podem enriquecer-se mutuamente (...) Não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum." (Carta aos Bispos, que acompanhou o Motu Próprio)

O Santo Padre ainda fez questão de mostrar que a Missa Tridentina NÃO se contrapõe ao Concílio Vaticano II:

"Há o temor de que seja aqui afectada a autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas decisões essenciais – a reforma litúrgica – seja posta em dúvida. Tal receio não tem fundamento." (Carta aos Bispos)

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, já havia escrito (em "O Sal da Terra):

"A meu ver, devia-se se deixar seguir o rito antigo com muito mais generosidade àqueles que o desejam. Não se compreende o que nele possa ser perigoso ou inaceitável. Uma comunidade põe-se em xeque quando declara como estritamente proibido o que até então tinha tido como o mais sagrado e elevado, e quando considera, por assim dizer, impróprio o desejo desse elemento. Pois em que se poderá acreditar ainda do que ela diz? Não voltará a proibir amanhã o que hoje prescreve? (...) Infelizmente, entre nós, a tolerância de experiências aventureiras é quase ilimitada; contudo, a tolerância a liturgia antiga é praticamente inexistente. Desse modo, está-se certamente no caminho errado."

Mito 04: "Para celebrar a Missa Tridentina é preciso autorização do Bispo local"

Não precisa.

Com o Motu Próprio Summorum Pontificum, o Santo Padre Bento XVI liberou universalmente a celebração da Missa Tridentina (antes, ela estava restrita à autorização dos bispos locais).

Comentário Sobre Estes Mitos:

O que significou este ato do Papa, ao liberar universalmente a Missa Tridentina, é que Doutrina Católica sobre a Santa Missa, evidentemente, não muda, pois o Sagrado Magistério da Igreja é infalível em matéria e moral (ver Catecismo da Igreja Católica, n. 2035); e a Santa Missa continua sendo a mesma coisa para a Santa Igreja, seja ela celebrada na forma tridentina do Rito Romano ou na forma aprovada pelo Papa Paulo VI.

Pois a Santa Missa é Renovação do Único e Eterno Sacrifício de Nosso Senhor, consumado de uma vez por todas na cruz, tornado presente no altar e oferecido ao Pai Eterno, pelas mãos do sacerdote, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1362-1372; 1411; e é onde Nosso Senhor se faz presente verdadeiramente e substancialmente no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat. n. 1374-1377)

Como escreveu o Santo Padre na época que era Prefeito da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, é possível que a situação de termos dois ritos (ou "duas formas" de um único rito, segundo a terminologia que ele preferiu utilizar no documento recentes) seja provisória. São palavras dele (Carta do Cardeal Ratzinger ao teólogo Heins Lothar Barth):

"Creio que no futuro a Igreja romana deverá ter um só rito; a existência de dois ritos é dificilmente "gerível" pelos Bispos e padres. O rito romano do futuro deveria ser um só rito, celebrado em latim ou em língua popular, mas baseado inteiramente na tradição do rito antigo; ele poderia integrar alguns novos elementos que passaram bem pelaprova, alguns prefácios, leituras mais longas -- mais escolhidas que antes, mas não demais -- uma "Oratio fidelium", quer dizer uma ladainha de orações de intercessão após o Oremus e antes do Ofertório, onde era o seu lugar primitivo."

Disse ainda o Papa na Summorum Pontificum:

"O Missal Romano promulgado por Paulo VI deve ser considerado como a expressão ordinária da lei da oração (lex orandi) da Igreja Católica de Rito Romano, enquanto que o Missal Romano promulgado por São Pio V e publicado novamente pelo Beato João XXIII como a expressão extraordinária da lei da oração ( lex orandi) e em razão de seu venerável e antigo uso goze da devida honra."

E ainda:

"O uso do Missal antigo pressupõe um certo grau de formação litúrgica e o conhecimento da língua latina; e quer uma quer outro não é muito freqüente encontrá-los. Por estes pressupostos concretos, já se vê claramente que o novo Missal permanecerá, certamente, a Forma ordinária do Rito Romano, não só porque o diz a normativa jurídica, mas também por causa da situação real em que se encontram as comunidades de fiéis."

Sendo que nos últimos 35 a Santa Missa foi celebrada praticamente somente na forma aprovado pelo Papa Paulo VI, é natural que esta forma continue à ser a forma ordinariamente celebrada; ainda mais pelo fato de que a Missa Tridentina celebrada somente em latim, o que naturalmente concede à ela uma presença mais limitada hoje por nem todos possuírem este conhecimento litúrgico e da língua latina, como o próprio Santo Padre fala.

Outro ponto a se destacar, em relação a Missa Tridentina, é a respeito dos jovens.

Diz o Papa:

"Logo a seguir ao Concílio Vaticano II podia-se supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse à geração mais idosa que tinha crescido com ele, mas entretanto vê-se claramente que também pessoas jovens descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e nela encontram uma forma, que lhes resulta particularmente apropriada, de encontro com o Mistério da Santíssima Eucaristia." (Carta aos Bispos)

Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado, pelo Santo Sacrifício da Missa e por toda a Sagrada Liturgia da Igreja

domingo, 1 de abril de 2012

Mitos Litúrgicos - Mito 03: Usar Casula?

Este estudo é baseado no artigo "Mitos Litúrgicos", Que Escrevi e Foi Revisado por Sua Excelência Reverendíssima Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen (RS). O artigo lista 32 idéias equivocadas sobre a Sagrada Liturgia e contra-argumento com a palavra oficial da Santa Igreja.



Mito 18: "O Sacerdote Usar Casula é Algo Ultrapassado?"

Não é.

A casula é o paramento sacerdotal próprio para o Santo Sacrifício da Missa. É o mais solene, varia de cor conforme a prescrição para a celebração em específicoe vai sobre a alva e estola.

Infelizmente, tem se tornado moda em muitos lugaresque muitos sacerdotes celebrem usando apenas a alva e a estola, enquanto ascasulas mofam nos armários.

A Instrução Geral do Missal Romano (n. 119) determina que o sacerdote utilize: amito, alva, estola, cíngulo e casula (amito e cíngulo podem ser dispensáveis,conforme o formato da alva).

A Instrução Redemptinis Sacramentum determina ainda que, sendo possível, inclusive os sacerdotes concelebrantes utilizem a casula (n. 124-126):

"No Missal Romano é facultativo que os sacerdotes que concelebram na Missa,exceto o celebrante principal (que sempre deve levar a casula da cor prescrita),possam omitir «a casula ou planeta, mas sempre usar a estola sobre a alva»,quando haja uma justa causa, por exemplo o grande número de concelebrantes e afalta de ornamentos. Sem dúvida, no caso de que esta necessidade se possaprever, na medida do possível, providencie-se as referidas vestes. Os concelebrantes, a exceção do celebrante principal, podem também levar a casulade cor branca, em caso de necessidade. (...) Seja reprovado o abuso de que os sagrados ministros realizem a santa Missa, inclusive com a participação de só umassistente, sem usar as vestes sagradas ou só com a estola sobre a roupa monástica, ou o hábito comum dos religiosos, ou a roupa comum, contra oprescrito nos livros litúrgicos. Os Ordinários cuidem de que este tipo de abusossejam corrigidos rapidamente e haja, em todas as igrejas e oratórios de suajurisdição, um número adequado de vestes litúrgicos, confeccionadas de acordo com as normas."

Embora haja para o Brasil a concessão de o sacerdote celebrar apenas utilizando alva e estola quando houver razões pastorais (ver comentário do Pe. JesúsHortal, SJ, à respeito do cânon 929, no Código de Direito Canônico editado pela Loyola), de forma alguma pode-se dizer que o uso da casula é ultrapassado, como foi demonstrado acima.

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"No meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um cinto de ouro." (Apocalipse 1,13)
"Está vestido com um manto tinto de Sangue, e Seu Nome é Verbo de Deus. Seguiam-no em cavalos brancos os exércitos celestes, vestidos de linho, fino e de uma brancura imaculada." (Apocalipse 19, 13-14)

Comentário sobre este Mito (03/09):

O Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, em seu fabuloso livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", faz uma reflexão muito profunda a respeito do significado espiritual da casula.

Entre outras coisas, ele escreve:

"A veste litúrgica usada pelo sacerdote durante a celebração da Sagrada Eucaristia deve, em primeiro lugar, demonstrar que ele não se encontra lá em privado, mas que está lá no lugar de alguém - de Cristo. O seu privado e individual devem desaparecer, a fim de conceder espaço a Cristo. - essas palavras pronunciadas por São Paulo após a sua própria experiência com Cristo, como expressão do novo que sente a pessoa batizada (Gl 2,20), são de uma importância específica para o sacerdote celebrante. Não é ele o importante, pois quem ele transmite é Cristo e não a sua própria pessoa. Ele deve fazer de si o instrumento de Cristo, que não age por si, mas sim como mensageiro de outra pessoa - in Persona Christi, como diz a tradição litúrgica."

Pois é através do Sacerdote, que atua "in Persona Christi" (na Pessoa de Jesus Cristo, por graça participando ministerialmente do Seu Sacerdócio; ver Catecismo n. 1667-1673), que Nosso Senhor Jesus Cristo se oferece e se faz presente de forma real e substanciual no Santíssimo Sacramento do Altar, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nas aparências do pão e do vinho, como afirma o Catecismo da Igreja Católica (Cat.), nos números 1374-1377. Isso se dá durante a Santa Missa, que é a renovação do Seu Único e Eterno Sacrifício, consumado de uma vez por todas na cruz e tornado presente no altar, pelas mãos do sacerdote (Cat. 1362-1372; 1411).

No mesmo livro citado, o Papa faz uma retrospectiva histórica a respeito do significado da veste litúrgica:

"Pensa-se que a imagem de se revestir de Cristo foi formada nas consagrações dos cultos místicos, em analogia com o culto de vestir máscaras das respectivas divindades. Paulo não fala nem de máscaras nem de ritos, antes de um processo de transformação interior, que tem por objetivo tanto a renovação interior do homem à imagem de Deus como a união dos homens. Tal superação seria a superação das barreiras que crescem e sempre crescerão na história do pecado dos homens. Daí que a imagem de revestir-se de Cristo seja uma imagem dinâmica, que aspira à transformação dos homens e do mundo - ou seja, à nova humanidade. A veste litúrgica evoca o tornar-se como Cristo e a comunidade nova que nasce daí. Ela desafia o sacerdote a pôr-se no caminho para sair da sua própria existência, a fim de se tornar novo com Cristo. Isso lembro os participantes do caminho novo que se iniciou no Batismo e que conitnua na Eucaristia runo ao mundo novo, devendo delinear-se no nosso quotidiano mediante o Sacramento."

Continua o Papa:

"A veste litúrgica indica para além do significado das vestes exteriores - ela é a antecipação do vestido novo, do Corpo Ressuscitado de Jesus Cristo, a caminho do novo que nos espera depois da destruição e que será a nossa morada eterna."

E completa:

"Para os Padres, a história do Filho Pródigo regressado era a história da queda de Adão, da falência do homem (Gn 2,7). Eles entenderam a parábola de Jesus como a mensagem do regresso a casa e da reconciliação dos homens entre si: aquele que regressou a casa em Fé recebe de volta a veste primordial e será revestido da Piedade e do Amor de Deus, que constinuem a verdadeira beleza."

E nós, o que vamos fazer diante deste maravilhoso significado espiritual e litúrgica da casula?

Desvalorizá-la como se fosse algo qualquer?

Deixar de usá-la para se "prender ao essencial"? Mas...ela aponta para o essencial, como vimos nas palavras do Papa!

Pelo contrário: é preciso que mergulhemos no significado litúrgico da casula, e da própria valorização que a Sagrada Liturgia dá aos sinais externos.

Negar isso implicaria colocar-se em contraposição com grandes parte das normas litúrgicas da Santa Igreja, bem como com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos, velas, flores, incenso, gestos do corpo, etc), que partem da necessidade de se manifestar com sinais externos a fé católica a respeito do que acontece no Santo Sacrifício da Missa, bem como manifestar externamente a honra devida a Deus. A atitude interna é fundamental, mas desprezar as atitudes externas é um erro.

O Papa liga ainda o uso da casula ao que ele chama de "verdadeira beleza", que é a "Piedade e o Amor de Deus".

Esta questão da "beleza litúrgica", que se faz tão presente no uso da casula, ele mesmo abordou na sua fabulosa Encílica Sacramentum Caritatis (n 35), onde o Papa diz:

"A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). (...) Jesus Cristo mostra-nos como a verdade do amor sabe transfigurar inclusive o mistério sombrio da morte na luz radiante da ressurreição. Aqui o esplendor da glória de Deus supera toda a beleza do mundo. A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra."

E completa o Papa (n.35):

"Concluindo, a beleza NÃO É UM FATOR DECORATIVO da acção litúrgica, mas seu ELEMENTO CONSTITUTIVO, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza."

Eu particularmente considero a casulas, juntamente a capa-magna (paramento que sacerdote ou diácono utilizam em exposição do Santíssimo Sacramento abaixo do véu-umeral, e se assemelha a capa de um rei), comos paramentos mais belos e esplendorosos que temos na Sagrada Liturgia.
As minhas casulas praferidas são as azuis (nos locais onde há a concessão para usá-las em certas datas marianas), as douradas (esplendorosas!) e as com figuras de flores, que são muito tradicionais - vejo também, nas casulas com flores, algo de "celeste" e de "presença mariana" que envolvem totalmente o Cristo Sacerdote.

Toda essa questão dos materiais nobres nos vasos sagrados que falamos em postagem anterior, do uso da casula que falamos aqui, e da qualidade artística dos demais materiais litúrgicos, fazem parte do dar o melhor para Deus.

No caso da casula, muitas vezes não se utiliza porque não se quer (e ela mofa no armário). Mas tenho visto que, outras vezes, principalmente em eventos (por exemplo, encontros deevangelização, encontros de jovens, retiros...) fora de paróquias, não se usa porque não se tem casula ali. E porque não se tem? Talvez porque não haja uma atenção especial para este ponto, e penso que é um ponto que em muitos lugares podemos avançar.

Tenho participado com certa frequência de equipes que servem na Liturgia em encontros como esses, e vejo que muitas vezes as pessoas se surpreendem em ver certo tipo de preocupação litúrigica nossa com coisas muitas vezes vistas como "desnecessárias": providenciar um "altar de qualidade" quando o Santo Sacrifício da Missa é fora de lugar sagrado, providenciar (e carregar para o local!) materias litúrgicos da melhor qualidade possível, desde paramentos até castiçais e flores para ornamentar altar...

O raciocínio que faço é muito simples. Nesses eventos, se costuma dedicar-se tanto para: oferecer uma comida de qualidade nas refeições; limpar o lugar do encontro; decorar o lugar do encontro; conseguir os melhorese quipamentos de som (mesmo que custe dinheiro), levar os melhores instrumentos,ensair as músicas e invertir tempo nisso (quem é músico sabe!), ter um cuidado todo especial na afinação dos intrumentos...e tudo isso é importante, claro! Mas porque uma equipe que cuida da Liturgia não dedicar-se também em fazer o melhor possível para preparar o Culto Divino? Inclusive no tempo investido, nos materiais preparados e carregados?

Dei essa volta toda para ilustrar o ponto que quero chegar: que nesta questão da casula e da qualidade dos materiais litúrgicos, que tanto temos falado nestas postagens, ao prepararmos o Culto Divino, sejamos movidos pelo verdadeiro "espírito da Liturgia" (termo do título do livro do Santo Padre), e NÃO pelo desleixo, que leva a "dessacralização" (tratar o sagrado como se não fosse sagrado), termo que o saudoso Papa João Paulo II usou na carta Dominicae Cenae (n.8).

Um caminho leva para a dessacralização. O outro caminho, para a Sacralidade, como fala o Papa João Paulo Paulo (Dominicae Cenae, n.8).
E aí vemos a riqueza dos sinais litúrgicos:

- algo de especial que acontece (a Presença Real e Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, a Renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor na Missa!)

- celebrado por alguém que, por Misericórdia de Deus, recebeu uma graça especial (o Sacramento da Ordem) e é "Persona Christi"

- celebrado em um lugar especial (nas igrejas, capelas e oratórios, que são a Casa de Deus...)

- preparado de uma forma especial (a ornamentação do altar e do local, as velas, as flores...)

- utilizando-se uma veste especial (a casula no caso dos sacerdotes, a batina e sobrepeliz dos acólitos, o véu das mulheres que reverentemente optam em usá-lo por amor...)

E que tudo isso, é claro, seja acompanhado pelo nosso amor a Deus!
Que as velas que se consomem no altar sejam nossa vida consumindo-se por amor a Nosso Senhor! Que o incenso seja o perfume da nossa adoração que sobe ao céu!
Que o "ouro" dos cálices e cibórios seja o "ouro" de um coração que adora a Deus!
Que o vestir as casulas, alvas, batinas, sobrepelizes, capas, véus, seja a nossa atitude de querer revestir-se do Espírito Santo...

Uma objeção que muitas vezes se coloca ao uso da casula é a questão da humildade... "não vou usar, porque preciso ser humilde."

Ora, essa objeção não se sustenta. Se há uma vaidade no "estou usando a casula", também há uma vaidade no "estou me despojando e não usando".

Como colocamos acima, com as citações dos gigantes Bento XVI e João Paulo II, a casula e toda a beleza litúrgica precisa apontar para Deus, e não para nós. É uma questão de mudança de percepção. E como filhos e filhas da Santa Igreja, é ato de humildade agirmos como nossa Santa Mãe Igreja deseja e a tem em sua tradição litúrgica.

Aliás, esse pensamento de "não usar casula para de despojar" parece ser o mesmo tipo da tentação de: "Vou deixar de rezar o Rosário para não me envaidecer" ou "Deus me deu o dom de pregar, mas não vou pregar para não me envaidecer".

Ora, se há uma vaidade no rezar o Rosário ou no pregar a Palavra de Deus, também há vaidade no "estou me despojando e não fazendo isso".

Somos homens e não anjos, temos concupiscência (a tendência ao pecado que é consequência do pecado original), e há algo de vaidade ou outro tipo de desordem em absolutamente tudo o que fazemos, mesmo que tenhamos as melhores intensões, como afirmam os santos autores espirituais. São Luis Maria Montfort (Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, n.78), por exemplo, diz que "nossa melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós." O que precisamos é não deixar que essa maldade, sempre presente, domine o que fazemos; e sim, que nosso Amor a Deus domine.

Tais tentações são um artifício em que o Demônio usa dos nossos escrúpulos para impedir que façamos a Vontade de Deus: rezando o Santo Rosário, talvez pregando a Palavra de Deus, valorizando o esplendor da Sagrada Liturgia...

Por último, retomamos um alerta:

Existe uma Revolução Cultural Anticristã, em processo em nossa sociedade, quer abolir na sociedade as justas desigualdades e hierarquias (Cat., n. 874-896), e a teologia modernista quer abolir o Sacerdócio, igualando a figura do sacerdote a qualquer outro leigo.

Muitos liturgistas adeptos da teologia modernista, ou influenciados por ela, e que com as suas novas interpretações litúrgicas pretendem negar ou ofuscar os Mistérios da Presença Real e Substancial de Nosso Senhor na Hóstia Consagrada, da Santa Missa como Renovação do Sacrifício de Nosso Senhor e do Sacerdócio Ministerial.

Nestes casos, é ignorada a essência mística do Sacerdócio, e o sacerdote é rebaixado a ser, simplesmente, alguém que ocupa um cargo à frente de uma comunidade. Neste aspecto, é o mesmo igualitarismo revolucionário que no séc. XVI os protestantes fizeram, atentando contra a hierarquia da Santa Igreja, instituída por Nosso Senhor.Há destes liturgistas que conhecem bem o poder dos símbolos e da linguagem para a alma humana, e o utilizam em suas estratégias.

Muitos vezes, são exemplos disso (nos limitamos aqui aos exemplos estritamente relacionados à forma de vestir dos sacerdotes dentro e fora das celebrações):

- os sacerdotes andarem "vestidos de leigos" – não usarem nem batina nem clergyman (ou hábito religioso, no caso dos sacerdotes religiosos). Em tempo: o Código de Direito Canônico determinada que os cléricos usem veste clerical (cânon 284).

- os sacerdotes usarem cada vez menos paramentos na Santa Missa, deixando de usar a casula, que é o paramento próprio para a Santa Missa, e usando apenas somente alva e estola (e por vezes nem isso!) – enquanto os leigos usam cada vez mais "vestes litúrgicas" – e estranhamente, em vários lugares, "vestes de leitor" que parecem casulas.
Ocorrem dois processos similares e igualitaristas: a laicização do clero e a clericalização do leigo.

É preciso percebermos este perigoso movimento cultural, teológico e litúrgico, e reagirmos.

Nas aparições da Santíssima Virgem em Fátima (Portugal, 1917), oficialmente reconhecidas pela Santa Igreja, quando o Anjo apareceu para as crianças, antes da Virgem aparecer, ele trazia consigo uma Hóstia Consagrada. Prostrando-se por terra, ensinou a elas a seguinte oração:

"Meu Deus: eu creio, adoro, espero-vos e amo-vos. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam."

Que a Grande Mãe de Deus, Mãe da Eucaristia e Mãe dos Sacerdotes, pela Sua Poderosa Intercessão, nos conceda a graça de crer, adorar, amar e zelar pelo Santíssimo Corpo do Deus-Amor Sacramentado, pelo Santo Sacrifício do Altar e pelo Sacerdócio...

"No meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um cinto de ouro." (Apocalipse 1,13)

"Está vestido com um manto tinto de Sangue, e Seu Nome é Verbo de Deus. Seguiam-no em cavalos brancos os exércitos celestes, vestidos de linho, fino e de uma brancura imaculada." (Apocalipse 19, 13-14)

O Uso do Véu Como Um Sacramental!!!


O uso do véu pode ser considerado um sacramental. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “quase não há uso honesto de coisas materiais que não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus.” (§1670). O uso do sacramental não é essencial, portanto, à salvação, mas um auxílio. Exemplos de sacramentais são a água benta, medalhinhas, o escapulário.
O uso do véu não é expressamente ordenado, mas é recomendado como uma prática de piedade, caso a mulher se sinta chamada a isso. Se a mulher lê as passagens bíblicas a esse respeito e sente o Espírito Santo movê-la, deve primeiramente orar e discernir a respeito.
É muito importante que um sacramental seja utilizado pelas razões certas, ou seja, para o crescimento espiritual do portador. Superstição, pressão do grupo, vaidade, nada disso são razões válidas para se usar o véu. Um bom teste a se fazer é se perguntar: “Se o Papa banisse o uso do véu amanhã, eu estaria disposta a obedecer?” Se a resposta for sim, então essa é a atitude correta. No final das contas, o uso do véu tem a ver com obediência a Deus e a seus representantes. Obediência, como dizia São Bento, é a prova de fogo para a santidade. Uma pessoa verdadeiramente humilde e santa obedece aqueles que foram designados para dirigi-la.
Voltando ao conceito de sacramental, é imporante a atitude honesta diante de Deus, e o uso honesto de coisas materiais, de modo a ordená-las para a finalidade de glorificar a Deus. O uso do véu tem a finalidade de levar a mulher a desenvolver atitudes próprias de humildade e adoração a Jesus, da mesma forma que o uso do escapulário é uma devoção que promove a piedade.
Por fim, pode-se concluir que o uso do véu é, antes de tudo, um chamado, um carisma. Cada um tem suas necessidades, seu processo de crescimento espiritual. A Igreja, mãe generosa, oferece vários meios de prover a essas necessidades, através de suas muitas formas de devoção e dos sacramentais, que, se praticados corretamente, levam o fiel à maturidade espiritual. Ademais, o hábito de usar o véu ajuda a mulher a compreender sua vocação e identidade, seu lugar na criação e na Nova Aliança, o Santo Sacrifício, bem como a real importância destes.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Para Não Tornar Inútil o Jejum!!!



Um artigo do Arquimandrita. Manuel Nin, Reitor do Pontifício Colégio Grego de Roma, e sacerdote católico de rito bizantino, sobre o jejum e a Quaresma, nos chega do Oblatvs, via Sinaxe, o blog sobre ritos orientais do Philippe Gebara, que em breve embarcará para o Líbano, onde será recebido como aluno do Seminário Patriarcal Melquita.

“Jejuando de alimentos, ó minha alma, sem que te purifiques das paixões, em vão te alegras pela abstinência, porque se esta não se torna para ti ocasião de correção, como mentirosa, tendes ódio a Deus e te tornas semelhante aos pérfidos demônios que jamais se alimentam. Não tornais, pois, inútil o jejum, pecando, mas permanecei firme sob os impulsos desregrados, considerando que estás junto do Salvador crucificado, ou melhor, estás crucificada junto d’Aquele que por ti foi crucificado, gritando-lhe: recorda de mim, Senhor, quando vieres no teu reino”. Este tropário da terceira semana da pré-quaresma na tradição bizantina resume de modo incisivo o que é o período quaresmal de cada uma das tradições cristãs: o jejum e a abstinência são vãos se não correspondem a uma verdadeira conversão do coração.

Na tradição bizantina, o período de dez semanas que precede a Páscoa é chamado “Triodion” – nome que indica as três odes bíblicas cantadas no ofício da manhã – e compreende a pré-quaresma e a quaresma. O período pré-quaresmal é comum a todas as tradições litúrgicas cristãs, do “Triodion” bizantino, ao “Jejum dos ninivitas” siríaco, ao “Jejum de Jonas” dos coptas, à “Septuagésima” na antiga tradição latina. A quaresma bizantina propriamente dita compreende quarenta dias – da segunda-feira da primeira semana à sexta-feira antes do Domingo de Ramos – e desenvolve as semanas de segunda-feira a domingo, apresentando o caminho semanal em direção ao domingo, como modelo da própria quaresma em direção à Páscoa. Faz ainda uma clara distinção entre o sábado e o domingo e os outros dias: nos primeiros se celebra a Divina Liturgia (aos domingos com a Anáfora de São Basílio, aos sábados com a de São João Crisóstomo), enquanto nos dias de semana celebra somente o ofício das horas, com o acréscimo durante as vésperas de quarta-feira e sexta-feira da Liturgia dos Pré-santificados, isto é a comunhão com o Corpo e o Sangue do Senhor consagrados no domingo precedente.

A quaresma bizantina é um período muito rico na escolha dos textos bíblicos: salmos, leituras; na hinografia e nas leituras dos padres. Os textos hinográficos se concentram sobretudo no tema da alma humana, dominada pelo pecado, que encontra, por meio da quaresma, a possibilidade de salvação. Nos quatro domingos da pré-quaresma encontramos os grandes temas que marcam o percurso quaresmal: a humildade (domingo do publicano e do fariseu); o retorno a Deus misericordioso (domingo do filho pródigo); o juízo final (domingo de carnaval), o perdão (domingo dos laticínios). Neste último domingo, comemora-se a expulsão de Adão do paraíso: Adão, criado por Deus para viver em comunhão com Ele no paraíso, é dele expulso por causa do pecado, mas na quaresma começa o caminho de retorno que culminará quando o próprio Cristo, no mistério pascal, desce aos infernos e lhe dá sua mão para arrancá-lo da morte e reconduzi-lo ao paraíso, que é quase personificado na oração da Igreja. No final da véspera do quarto domingo se celebra o rito de perdão com o qual se inicia a quaresma.

A quaresma dura quarenta dias, com cinco domingos. Em cada um deles vemos um duplo aspecto: de uma parte as leituras bíblicas que preparam para o batismo, de outra os aspectos históricos ou hagiográficos. No domingo da ortodoxia, a vocação de Felipe e Natanael é modelo da vocação de todo ser humano e se celebra o triunfo da ortodoxia sobre o iconoclasmo e o restabelecimento da veneração dos ícones. No domingo de São Gregório Palamas se recorda a fé do paralítico curado por Cristo [Nota minha: e se veneram as relíquias dos santos]. O domingo da exaltação da santa Cruz é dedicado à veneração da Cruz vitoriosa de Cristo, levada solenemente ao centro da Igreja e venerada pelos fiéis durante toda a semana como sinal de vitória e de alegria, não de sofrimento. No domingo de São João Clímaco, modelo de ascese, celebra-se a cura do endemoninhado, e no de Santa Maria Egípcia, modelo de arrependimento, o anúncio da ressurreição. No sábado da quinta semana se canta o hino “Akathistos”, ofício dedicado à Mãe de Deus.

A sexta e última semana da quaresma, chamada de Ramos, tem como centro a figura de Lázaro, o amigo do Senhor, desde o momento da doença até a morte e à sua ressurreição. Os textos litúrgicos nos aproximam daquilo que se manifestará plenamente nos dias da Semana Santa, isto é, a filantropia de Deus manifestada em Cristo, o seu amor real e concreto pelo homem. Toda a semana se enquadra na contemplação do encontro, já próximo, entre Jesus e a morte, a do amigo em primeiro lugar, e sua própria na semana seguinte. Os textos litúrgicos visam a nos envolver neste caminho de Jesus em direção a Betânia, em direção a Jerusalém. Na liturgia bizantina jamais somos expectadores, mas sempre participantes e concelebrantes, presentes na liturgia e no evento de salvação que a liturgia celebra. Com as vésperas do sábado de Lázaro se conclui o período quaresmal.

Ao longo de toda a quaresma, a tradição bizantina recita, ao final de todas as horas do ofício, a oração atribuída a Santo Efrém, o Sírio, que resume o caminho de conversão de todo cristão: “Senhor e soberano de minha vida, que não me dês [ou em outra tradução "afaste de mim..."] um espírito de preguiça, de indolência, de soberba, de vanglória. Dá-me, a mim teu servidor, um espírito de sabedoria, de humildade, de paciência e de amor. Sim, Senhor e rei, dá-me enxergar os meus pecados e não condenar o meu irmão, a fim de que sejas bendito pelos séculos”.

Por que o IV Domingo da Quaresma é o Domingo "Lætare"?


Cada Santa Missa é Identificada, Com Precisão, de Acordo Com a Posição Que Ocupa no Calendário Litúrgico. Assim, ao assistirmos ao sacrifício, sabemos que aquela Liturgia é, por exemplo, a da Quinta-feira da 27ª Semana do Tempo Comum; ou então, a do Primeiro Domingo da Quaresma; ou a da Solenidade de Pentecostes; e assim por diante.

Algumas Missas, além de trazerem esta identificação, receberam da tradição um nome adicional que poderíamos até entender como um “apelido”. Não são muitas.

Por exemplo: dá-se o nome de Requiem à Missa celebrada em memória dos fiéis defuntos. Inúmeros compositores, ao longo dos séculos, colocaram em música o Próprio desta Missa, e é suficiente escrever na capa da partitura: Requiem; todos já sabem do que se trata.

E esse “apelido” foi dado porque Requiem é a primeira palavra do Introito. Ao se abrir um Missal latino, dá-se de cara, imediatamente, com essa palavra. Muito lógico, então:Missa de Requiem.




Dois outros casos muito conhecidos ocorrem um no Advento e o outro na Quaresma. Estes dois tempos litúrgicos são penitenciais, cada um com suas peculiaridades. Entretanto, o penúltimo Domingo de cada um destes tempos é um pouco menos penitencial, com certos aspectos que nos vêm lembrar que a alegria está chegando (o Natal, num caso, e a Páscoa da Ressurreição, no outro).

Portanto, dos quatro Domingos do Advento, o terceiro é esse Domingo de certa alegria: chama-se Domingo Gaudete – porque gaudete é a primeira palavra do Introito.




Dos Cinco Domingos da Quaresma, o Quarto é Que Antecipa Um Pouco o Júbilo: chama-se Domingo Lætare – porque seu Introito começa com a palavra lætare.

O texto é conforme Is 66, 10-11: alegrai-vos, Jerusalém, reuni-vos, todos que a amais; regozijai-vos com alegria, vós que estivestes na tristeza; exultai e sereis saciados com a consolação que flui de seu seio.

Em latim: lætare, Ierusalem, et conventum facite omnes qui diligites eam; gaudete cum lætitia, qui in tristitia fuistis; ut exsultetis, et satiemini ab uberibus consolationis vestræ.

Abaixo, a partitura do Introito. Duas opções para ouvi-lo: no vídeo colocado depois da partitura ou neste conhecido site, em que o leitor poderá ouvir os monges do Mosteiro de São Bento de São Paulo cantando não só o Introito, mas todo o Próprio do Quarto Domingo da Quaresma.

Igreja Católica de Santo André (FSSP) – Edinburgo, Escócia